CRISTIANISMO INFORMAL
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Não é novidade nos tempos em que estamos vivendo depararmos com posturas sinistras e estranhas ao que conhecemos da fé cristã. Hoje percebemos um novo movimento se levantando de dentro da igreja com a proposta de renascer a igreja primitiva.
Percebemos que o movimento neopentecostal apostólico ainda tem algumas de suas aspirações alimentando essa galera. Acredito que você está ansioso para conhecer. Mas já lhe antecipo que não se trata de algo imprevisível e inusitado.
Analisando a fala das pessoas que divulgam tal doutrina, podemos dizer que fica algo bem ali entre o pensamento dos desigrejados e o movimento de células, se trata de CRISTIANISMO INFORMAL.
Imagine você a sua igreja local com essas pessoas disseminando isso por aí? Com o tempo elas vão começar a questionar a forma como a igreja existe em sua ação desde a sua fundação. Não importa se está em célula, com célula ou em rede ministerial, a abordagem de confronto com a forma de ação da igreja acaba ocorrendo. Porque elas veem como uma cultura a ser destruída. Seja por uma atitude de despertencimento, por propagação do pensamento, por uma não participação das atividades ministeriais da sua igreja e até dos cultos ou por questionar como o seu pastor local atua. Logo você saberá como isso ocorre numa igreja. Lembrando aqui que é indefinido a cumplicidade das pessoas inseridas nesse modismo religioso. Muitos agem como o apóstolo Paulo na sua cegueira, que encerrava os cristãos nas prisões achando que estava agradando a Deus.
Percebemos pelo jogo de palavras apresentadas nesse confronto inevitável dos envolvidos no modismo de que seja algo voltado para a heresia dos desigrejados, porém algumas vezes parece ser movimento de células. Entretanto, não é nem um, nem outro. Os envolvidos falam de reuniões casuais nos lares, e pasmem vocês, não consideram uma reunião de célula como informal. As ações de graças da igreja são diluídas em se reunir com as pessoas sem qualquer formalidade com o foco em se relacionarem e serem amigos chamando isso de comunhão. Jogar uma partida de vôlei, assistir uma série de plataforma digital ou saírem para passear já pode ser chamado de Koinonia. Não havendo distinção alguma entre koinonia e philia. Os termos se fundem e são tratados como sinônimos. E a participação do grupo fica toda baseada na hospitalidade no sentido literal da palavra desconsiderando o contexto histórico e cultural. As pessoas vivem dentro das casas uma das outras e quem for mais privado ou reservado ou não abraça a visão "é porque não se converteu".
São capazes de trocar o culto para receber ou fazer uma visita em casa. As atividades de culto dentro da igreja, dizem que são consideradas ineficazes para a "comunhão verdadeira". Assim, nesse ato a revelia da presença nos cultos e da palavra comunhão cristã ter um elo com a adoração, vão catando crentes desavisados para dentro do movimento que tem por objetivo implantar o seu modelo em detrimento do atual sem qualquer acordo prévio com o pastor. E se ele discorda, todas as questões negativas da igreja são imputadas sobre ele. Se, porém, concorda, as questões negativas são por culpa do Diabo e das fraquezas humanas.
As pessoas de dentro desse movimento têm o culto comum de todas as igrejas evangélicas como algo enfadonho e, com erro semântico, dizem ser "ritualismo". Lembrando aqui que é muito recorrente o mau uso de palavras bíblicas quando o assunto é igreja. O que se assemelha com o pensamento dos desigrejados. Preferem reuniões nos lares. O que se assemelha aos modelos de células. Porém, mesmo com algumas semelhanças com os dois movimentos, o CRISTIANISMO INFORMAL diverge em algumas questões. Por exemplo: os desigrejados mais extremos negam participar da ceia do Senhor, e os modelos de células buscam levar os participantes à prática das ações de graças. Enquanto que O CRISTIANISMO INFORMAL, até onde discerni, apoia a ceia do Senhor, que é uma formalidade, gerando uma contradição quanto a isso. E negam que reuniões de células da igreja sejam informais.
O mais discrepante de tudo é presumirem que são os resgatadores dos valores da igreja primitiva. Sendo que a mesma já apresentou em seu berço a importância das ações de graças (Cl.2.7), da formalidade da ceia (1Co.11.23-26), da organização dos cultos (1Co.14.23, 26; Hb.10.25), da aplicação de ministérios na igreja (Rm.12.7,8) e demais dons, e da valorização das tradições (2Ts.3.6; 2.15). O fato é que, negando qualquer compromisso com o contexto histórico cultural das passagens bíblicas que apresentam, vão tentando se convencer, e aos outros também, que estão fazendo o certo. Nem que as evidências provem o contrário. Ou que uma igreja inteira esteja sendo desequipada e abandonada. Então imputam na conta da soberania divina, jogando as responsabilidades individuais para debaixo do tapete ou imputam aos que ficam, a responsabilidade pelos ônus do efeito rebote por negarem a visão.
Eu não vejo nenhum problema em igrejas com células, mas tem um certo receio de igrejas em células, entretanto o modelo em si não constitui uma heresia. Embora os pioneiros de modelo celular na América Latina fermentaram a massa com muita heresia neopentecostal. Já a seita dos desigrejados ou desinstitucionalizados são nocivos à igreja de Cristo, por vários motivos e várias heresias que difundem nas redes sociais. Onde já apresentei uma resposta apologética ao movimento em dois livros que escrevi: Desigrejados e Igrejados (da editora Clube de Autores). Os dois volumes são como imunizantes para as igrejas locais e seus pastores. Por isso não tomarei o tempo aqui refutando tal segmento faccioso.
Se você se encontra atraído pelo CRISTIANISMO INFORMAL, pense bem, a Bíblia diz:
"A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova". (Rm.14.22).
Pense bem sobre algumas objeções das apologias feitas pelos que advogam o CRISTIANISMO INFORMAL:
90% da atividade da igreja tem que ser mais fora do que dentro.
Esse entendimento vem muitas vezes de uma má compreensão do papel da igreja em equipar os santos para o ministério. Certa vez perguntaram a Billy Graham se ele soubesse que Jesus viria na semana seguinte o que ele faria? Billy respondeu que passaria a primeira semana estudando a Bíblia como nunca na sua vida e a semana final pregaria a Palavra de Deus como nunca na sua vida. Portanto, o equilíbrio é muito importante. Afirmar que 90% da atividade da igreja ser externa demonstra falta de cuidado com o treinamento, preparação dos crentes, bem como uma campanha de desvalorização institucional que não podemos ver como inocente. Pois não se trata aqui de uma defesa ao modelo celular.
A igreja precisa se reunir em assembleias. Tem que haver os cultos solenes, as liturgias, as ações de graças, não dar para compactar sua atividade em 10%. Esse pensamento está desalinhado com a eclesiologia conhecida até hoje. O CRISTIANISMO INFORMAL é estranho ao que vivemos durante séculos. Quem se aventura nessa nova doutrina desconsidera o contexto bíblico sobre igreja e cai em heresia.
Jesus fez milagres nas casas e não no templo.
Ora vejam só. O que é um templo religioso? Respondendo dentro dos parâmetros bíblicos, se trata de um local de culto, podemos remeter aqui ao santuário de Jerusalém, que foi destruído em 70 d.C., que era um templo religioso reconstruído por Zorobabel do anterior que foi feito pelo rei Salomão. E na época em que o primeiro templo foi destruído surgiram as sinagogas. Locais de culto do povo hebreu no exílio babilônico que no tempo de Jesus permaneceram e prosseguiram assim. Jesus fez milagres nesses locais de culto sim. Por exemplo: a cura do homem da mão ressequida (Mc.3.1-6) e da mulher encurvada (Lc.13.10-14). Ele também libertou uma pessoa possessa por demônios numa sinagoga (Mc.1.21-27). Pedro e João curaram em nome de Jesus um paralítico de nascença na porta do Templo (At.3.1-8). E só não prosseguiram mais milagres porque os líderes religiosos desses locais censurava-os. Note que em Hebreus 10.25 traduz "congregar" ou "congregar-nos" ou "reunir" ou "vossa congregação" onde essas traduções são da palavra grega "episunagoge", que contém o sufixo que comumente traduz por "sinagoga" (sunagoge). São "edifícios onde reuniões religiosas judaicas eram realizadas formalmente para orações e leitura das Escrituras" (síntese de J. Strong). No caso da comunidade cristã mencionada pelo autor aos Hebreus ele está se referindo à assembleia dos cristãos para praticarem ações de graças, um termo grego similar a "ekklesia". Logo, é falacioso dizer que Jesus não fez milagres no Templo associando isso ao local de culto das igrejas evangélicas ou desprestigiando um lugar em favorecimento de reuniões em casas. Jesus e os apóstolos faziam reuniões nas casas porque o cristianismo não existia ainda. O que havia eram cristãos judeus e alguns gentios convertidos a Jesus. Sendo cerceados pelo império romano. Por isso as reuniões ocorriam nos lares.
Provérbios 25.17 é uma boa recomendação, mas com cautela.
Vejam só, como que em uma recomendação bíblica eu tenho que ter cautela? Toda a palavra de Deus é divinamente inspirada (2Tm.3.16). Então isso é um ultraje às santas Escrituras. Ora, se o texto bíblico me orienta a não andar constantemente na casa do meu próximo devo obedecer a instrução divina. Lembrando que a tradução "próximo" do texto em português é um pouco defasada. Pois no texto hebraico é "rayah", substantivo masculino que quer dizer "amigo, companheiro, colega". (James Strong versão Premium). Essa mesma palavra aparece em Deuteronômio 13.6 cujas traduções colocam "amigo". Por exemplo: "Quando teu irmão, filho da tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu seio, ou teu amigo [rayah] que te é como a tua alma, te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a outros deuses, os quais nunca conheceste, nem tu nem teus pais". (versão AR).
Isso posto, está claro que O CRISTIANISMO INFORMAL se incomoda com Provérbios 25.17 porque não atende aos seus interesses facciosos.
Jesus tinha seu ministério nas casas.
É óbvio. Jesus estava na posição de missionário, evangelista. Além do mais, ele não contava com o apoio dos dirigentes das sinagogas. Ele tinha que ir e levar o evangelho aos perdidos. Se os líderes religiosos rejeitaram o evangelho, como que ele tinha que focar seu ministério nas sinagogas? Agora, você tomar o ministério de Jesus, retirar desse contexto e usar como pretexto para justificar a modinha das casas hospitaleiras é complicado.
O Espírito Santo veio no dia de Pentecostes numa casa.
Ora, o Espírito Santo veio onde os cristãos estavam. Jesus mandou eles ficarem em Jerusalém à espera do Consolador (Lc.24.49). Se eles não tinham nem lugares de culto e o cristianismo não havia sido desvinculado do judaísmo, tendo a agravante de rejeição a Jesus e seus apóstolos por parte dos judeus, é óbvio que ficariam hospedados em uma casa na cidade. São argumentos inócuos!
1Pedro 4.9; Rm.12.13; Hb.13.2 são passagens que defendem o ministério nos lares. Será?
Essas passagens desprovidas de contexto poderiam ser um prato cheio aos defensores do CRISTIANISMO INFORMAL. Porém, tais passagens estão dentro de um contexto histórico cultural. A princípio, as hospedarias nesse tempo eram muito ruins. Segundo, os cristãos eram perseguidos e alguns expulsos de suas casas por causa da fé, precisavam de hospedagem. Além disso haviam os diversos cristãos que peregrinavam pelo mundo cumprindo a ordem de Jesus de pregar o evangelho e fazer discípulos. Por isso a forte ênfase das cartas bíblicas constarem essa recomendação, bem como aos bispos (1Tm.3.2). Logo, tomar essas citações bíblicas fora desse contexto para dizer que as pessoas devem viver enfiadas umas nas casas das outras é uma afronta à realidade dos fatos aqui apresentados.
Claro que o cristão deve praticar a hospitalidade, do grego "philoxenia", que quer dizer "amor aos estranhos, hospitalidade". Isto é, receber estranhos. Como fazer isso hoje em dia? Você deve abrir a porta de seu coração para novas amizades, acolher as pessoas, ser atencioso, atendê-las, recepcioná-las, ajudá-las, mas se tratando de sua casa? Essas pessoas são peregrinos de propagação do evangelho? São missionários? Pregadores da Palavra? Se não, você precisa pesar duas coisas: sobre a antecedência criminal dessas pessoas e a opinião de sua família sobre isso antes de receber um estranho em sua casa.
Agora, tratando-se de pessoas conhecidas, amigos, colegas e irmãos da igreja, a orientação é que se exercite a hospitalidade somada com a instrução de Provérbios, texto já mencionado aqui. Porém, o que é conflitante na afirmação acima é utilizar uma prática comum e cultural da época para desconstruir a cultura da igreja evangélica atual de se reunir na congregação para se reunir em casas sob o pretexto de hospitalidade e informalidade. Nem igrejas em células ou com células faz uso desse tipo interpretação. Quem usa esses textos sob o pretexto de favorecer O CRISTIANISMO INFORMAL em prejuízo da eclesiologia cristã existente não tem compromisso com a exegese bíblica nem com a unidade cristã.
Deixo aqui com a metáfora intitulada "parábola dos porcos espinhos". Que essa mensagem nos faça refletir e retornar a sobriedade:
"Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupo. Assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente. Mas os ESPINHOS DE CADA UM feriam os companheiros mais próximos, justamente os que forneciam mais calor, e por isto, tornaram a se afastar uns dos outros. Voltaram a morrer congelados… Precisavam fazer uma escolha: Ou desapareciam da face da terra; ou aceitavam os espinhos do semelhante. Com sabedoria, decidiram ficar juntos. Aprenderam a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro, e terminaram sobrevivendo".
CONCLUSÃO
Tivemos sempre ventos de doutrinas que sopraram sobre nós para nos dividir. Desde a Instituição religiosa anterior que pertencemos até hoje, passamos por vários: reteté, cura interior, movimentos de fé, saúde plena, prosperidade, confissão positiva, assédio das igrejas reformadas com cessacionismo, amilenismo e calvinismo, bem como agora nos deparamos que esse novo modismo religioso sem pé e sem cabeça agindo sorrateiramente querendo questionar nosso modelo de igreja, nossa cultura, nossa forma de pastorear, diminuindo nossas qualidades e apontando nossas falhas. Portanto, não estamos aqui para se acovardar frente às questões doutrinárias dentro ou fora da Gileade perante ad hominem utilizado sagazmente. Uma vez que nosso estatuto social nos orienta a fazermos apologia às doutrinas da Gileade Aerolândia e enfrentar as questões doutrinárias dentro e fora dela (Artigo 32).
Pr. Daniel Durand (ThB). Apologista pelo Instituto Cristão de Pesquisas.